Entre todas as resistências populares anti-sistémicas que sublevam actualmente a América Latina — e são inúmeras —, uma delas conseguiu fazer malograr a estratégia de dominação dos Estados Unidos: a do povo cubano. Única experiência revolucionária do Continente até ao momento vitoriosa, a mais antiga e radical das lutas latino-americanas coloca à hegemonia capitalista um problema insolúvel, que faz dela um perigo inaceitável pelo exemplo que dá: Cuba é a prova de que é possível na América Latina uma resistência socialista , anti-imperialista e anti-capitalista.
É esta presença do socialismo — revelando simultaneamente uma perda de controlo, por parte das forças dominantes do capital, de uma das peças da sua zona de influência máxima e o local preservado de uma alternativa para esta região devastada pelo neoliberalismo — que motiva os esforços de isolamento dirigidos contra ela (“elemento do eixo do Mal”) pela facção mais reaccionária do poder estabelecido nos Estados Unidos. Apesar de mais de 40 anos de guerra não declarada contra a Ilha, concretizada por inúmeras agressões directas ou terroristas, pelo mais longo bloqueio da História, pela ocupação militar de uma parte do território (base de Guantánamo) e por uma propaganda mediática, o governo dos Estados Unidos não conseguiu minar a base popular da Revolução, nem a dos apoios exteriores a favor da Cuba socialista , pois o facto é que esta goza de um prestígio imenso nos meios populares e progressistas. Muitos são os que, especialmente a Sul, admiram, aderem e desejam partilhar os seus valores e o seu projecto social. Há uma razão para isto, que é simples: os motivos que impulsionaram outrora a Revolução em Cuba — os estragos sociais causados pelo capitalismo e a violência imperialista dos Estados Unidos — não desapareceram nem da América Latina nem dos outros países do Sul; apesar de dificuldades reais de todos os géneros, os princípios das origens — justiça social e independência nacional — continuam a animá-la; para muitos, os objectivos almejados — um poder íntegro ao serviço da grande maioria do povo e uma sociedade socialista — continuam a constituir uma necessidade de futuro.
Mas a reacção norte-americana não é a única, longe disso, a obstinar-se contra a Ilha. Em França, “à esquerda” , há quem esteja persuadido da justeza da sua luta ao condenar Cuba, sem julgar necessário saber mais sobre o que se passa realmente na Ilha do que aquilo que é dito pelos órgãos de comunicação — unilateralmente hostis e posicionados nos seus chavões mediáticos (prostituição, corrupção, mercado negro, fachadas em ruínas… e “ditadura castrista” ) — ou pelo turismo intelectual. Os próprios comunistas, jurando que não voltariam a cair noutra, desorientados por uma série de derrotas e erros, preferem alinhar-se: dado que parece não passar de um resíduo anacrónico do sovietismo, Cuba deve cair. Este artigo tem por objectivo lutar contra este pensamento único anti-cubano , que constitui uma das múltiplas faces ideológicas da mundialização neoliberal–guerreira actual.
Postado por: Illana de Brito